segunda-feira, 21 de junho de 2010

obstrução

mesmo que eu sem pensar proponha; não me deixe. que no momento que a boca disser, a mesma boca que te beija, a mesma boca que te come, te mastiga, te atravessa, a boca que te disser é uma boca que não presta; não me deixe. que o momento é sempre outro, está mais pra frente um pouco; a gente sabe, é inevitável o desencontro, mas fica pra próxima; não me deixe. que a briga de anteontem, já passou, o choro de onteontem foi só meu, e eu me viro, eu me atiro, eu me vou; mas não me deixe, por favor, não me deixe antes que eu me vingue.

terça-feira, 15 de junho de 2010

amor eu sei

então-tá-amor, é muito claro.
soube que você não é assim como eu tinha pensado, e que não suporta mais me suportar; soube que anda enjoado, que precisa andar distraído, mas que está muito claro e evidente tudo isso que sinto, amor; soube que quando teu olho me vê, não enxerga um quê, um brilho, essa coisa que quando explode coração exclama oh!, ah!, ai ai!... soube que eu não me comparo, que eu não chego aos pés, que eu não sou aquilo, que eu não sou aquela, mas que você me ama, amor; que você me adora e não quer que eu vá embora. Eu soube disso tudo, amor, e não duvido. Porque você me disse.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

carta curta

Procuro andar distraída, e caio em coincidências. Tento evitar; quando vejo, tô pensando de novo. Desculpa. Estou tão impedida de tudo que eu me sinto obrigada a ao menos te escrever para não explodir desproporcional e louca, extravasando o que eu sinto de uma forma que literalmente "ninguém merece". Já tentei todos os improvisos possíveis para não meter os pés pelas mãos. Às vezes tenho medo de que, me vendo imóvel - ainda que amordaçada, ainda que algemada - pense que faz parte de mim ser assim, que vou bem-obrigada. Na verdade, como uma lagartixa, sou só eu ali, me fingindo de morta; no fundo bolando uma estratégia para sair daquela situação o mais rápido possível - já se passaram alguns anos. Momento "perguntas retóricas": por que para mim é tão insuportável, e você vai vivendo? Por que para mim é todo dia isso, e você de vez em quando? Por que eu me sinto tão preparada agora, e você me postergando? Até quando? Sonhei contigo. Sonho toda semana. O sonho é uma realidade aumentada. Um dia você vai saber. O problema é que não sei de quanto tempo vou precisar contigo; por isso que já não te peço mais nada. Mas eu te escrevo com tanta certeza, sabe? Eu te quero com todo o meu coração. Brega até. Mas não é exagero. É muito-muito verdadeiro. De chorar até. Mas quase sempre eu sou feliz.

terça-feira, 1 de junho de 2010

girassol

Amarela. Sorri girassol. Contempla horizontes. Onde? Onde? Acende odores que minha lembrança esconde. Surpreende e reza. Ajoelho e penso que é a voz de nós. Desatamos, desatamos; e só nos prende o que não segura a loucura que é sermos dois, duas, iguais em gênero e graus. Diferentes, daqui a pouco sente que o caminho é outro, que o agora é muito pouco, e faz as unhas, diz que é mulher de um homem só. Não sou, sozinho, não sou. Correspondo a mim e me igualo a qualquer um. Corro na rua; ela no sinal, pára o trânsito e grita vermelho, verde; amarela. Ela. Vai na frente. Ela. Ela. Estampando os dentes, corajosa. Ela. Ela. Ela. Eu, quase sempre, fico pra trás.