segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

a coisa mais precisa

Após todas as idas&vindas de ejaculações dramáticas, eles ficaram um ano sem se falar sem que tivessem tomado decisão alguma; sem que agora recordassem quem foi o último a se pronunciar e o que disse para o outro tê-lo deixado sem resposta. Até então eles eram uma soma de traições e verões inflamados em que se devoraram; duas flores carnívoras. Sempre voltavam. Aí ela veio com aquela história de que iria se casar, de que ele não a levava a sério e agora nem ela sabia se o levava. Depois ela foi sumindo aos poucos e sem noção, não respondia em tempo hábil de se encontrarem, desativou o único número que tinham para contato, e foi desabando tudo que era ponto de referência seu na internet; virou a realidade numa tormenta tamanha que ele passou a depender dela pra tudo, até para se comunicar em pensamento. Então ele arrumou outra, e foram sendo os dois assim por um tempo: ela esposa, ele namorado. Sempre voltando para a sede que ainda tinham, mas tomando goles cada vez mais difíceis de descer - tinha coisa até que empurravam goela abaixo como se fossem obrigados a engolir aquilo. Não eram. E ela lhe chegou, depois de uns três meses sem dizer nem ver, chegou para ele com palavras escritas e contou sem que sentisse necessidade mais de ser melodramática, sem que sentisse mais necessidade dele até, ela contou que estava grávida. Do outro, claro, do verdadeiro, o vencedor, o todinho dela; e ela todinha do outro agora, abraçada pelo meio das pernas, chocando. Ele, ao ler aquilo, choveu. Ele molhou. Ele chupou os lábios pra dentro da boca que não tinha nem o que responder. Quase uma década de ponderações métricas sobre se aquilo era mesmo o melhor a fazer, voltarem; aguardando uma resposta divina que chegasse e tomasse por eles a decisão sem que doessem, esperando, sabe-se lá, que alguém morresse ou os raptasse ou os mudasse de plano espiritual; para chegar "ao final", e a Vida lhes dar a única definição, a coisa mais precisa.