segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

.
.
então eu era uma moça suave, e como um vinho eu descia; alguns me pegavam pra cheirar, outros me esperavam sangrar, e a me julgar davam notas que eu jamais me alcançaria.
.
.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O pedido

Com eles sempre foi tudo diferente. Foi ela quem fez O Pedido. E foi ele quem enrubesceu. Ela pediu gentilmente, como se na verdade não quisesse, que ele a esquecesse, e lentamente tomou de volta as próprias mãos, e lentamente obteve força nas próprias pernas para caminhar em sentido contrário, a favor do vento que encrespava o mar e lembrava aquelas tardes de outono e caos, em que barcos tentam se abrigar da chuva que nunca chega. Ele de alguma maneira tentou impedir alguma coisa, que talvez fosse a sua partida, ou apenas o gesto de ir daquela forma, sem muito dizer, sem carinho. Depois, o tempo passou tão depressa, e tantas coisas aconteciam, que eles até acreditaram que era pra (não) ter sido aquilo mesmo. Como as tartarugas que nascem e cegas se lançam das areias para o mar.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

mundo cão

Voltava do trabalho. Notei caminhando logo à frente uma mulher aparentemente vestida de capa de chuva. Andava como se lhe aguardasse um compromisso. Era noite e demorou para que eu percebesse, depois de tê-la notado, que a capa preta era na verdade um saco de lixo. Não chovia. Eu caminhava assim, olhando-a sem interesse, quando percebi também que a seguia um cão. Um cão pretinho com patas miúdas, que caminhava como ela, à procura. Apesar do cão estar sem coleira, ela parecia confiar que ele a seguia - ou talvez nem soubesse, talvez não importasse; pode ser. De repente, ocorreu diante dos meus olhos um dilema. Um senhor surgiu da escuridão com um laminado contendo restos de comida - tinha feijão, uns pedaços de carne - mas tão pouco que nem o cão se fartaria. O homem abaixou-se próximo a um poste e estendeu a comida ao cão - a mulher caminhava com o olhar sempre adiante, como se objetivasse algo muito além de alimento ou casa; nem sei se era lúcida, creio que não. Neste momento, o cão miúdo, o cão mixuruquinha, parou de súbito diante da comida, farejando-a ressabiado - sabe-se lá quantas vezes lhe ofereceram algo assim tão de graça, sem um ponta-pé em troca. Mas então o cão olhou para a mulher, olhou com um desespero, sabe? Ela caminhava já a alguns metros de nós - eu desacelerei as passadas para observar a cena, insistindo em meu peito que o cão, pelo amor de Deus, se alimentasse - mas ele ficou olhando para a mulher, olhando para o prato, olhando para a mulher... enfiou a cabeça no laminado, e mastigava com pressa olhando para ela, como que não querendo perdê-la de vista. Eu passei por ele, juro, com vontade de chamá-la, de dizer "este é seu cão!", mas sentindo uma coisa que não sei, aquela coisa que diz "que bobagem, esqueça isso!"; simplesmente entrei em meu prédio. Ao pisar em casa, lembrei do Duque, que me sabia chegando desde o barulho das chaves lá embaixo, e me aguardava sobre o sofá, meio agachado, chamando pra farra. Eu não tenho mais o Duque. Sem me desfazer da mochila, de nada, tornei a fechar a porta e desci as escadas com uma pressa no coração que tinha o compasso dos passos daquela mulher. Saí do prédio em direção ao poste, mas de longe já se via que o cão não estava mais lá. Aproximei-me para me certificar. Realmente, nem sinal do cão. Mas a comida, a comida estava ali no pratinho laminado. Praticamente intacta.


* * *

Mundo Can

Volvía del trabajo. Noté que caminaba delante de mí una mujer aparentemente vestida con una capa para la lluvia. Caminaba como si la esperara un compromiso. Era de noche y pasó tiempo hasta que me di cuenta, después de haberlo notado, que la capa negra era en realidad una bolsa de basura. No llovía. Yo caminaba así, mirándola sin interés, cuando advertí que también la seguía un perro. Un perro negrito con patas menudas, que caminaba como ella, buscando algo. A pesar de que el perro no tenía collar, ella parecía confiar en que la seguía —o quizás ni lo supiera, no importaba; puede ser. De repente, delante de mis ojos sucedió un dilema. Un señor surgió de la oscuridad con un plato laminado que contenía restos de comida —había porotos, unos pedazos de carne— pero tan poco que ni el perro se llenaría. El hombre se agachó cerca del poste y le esparció la comida al perro—la mujer caminaba con la vista siempre adelante, como si su objetivo estuviera mucho más allá de alimento o casa; no sé si estaba lúcida, creo que no. En ese momento, el perro diminuto, el pobre perro, paró inesperadamente frente a la comida, husmeando con recelo —vaya uno a saber cuántas veces le han ofrecido algo gratis y de ese tamaño, sin un puntapié a cambio. Pero entonces el perro miró a la mujer, miró con desesperación, ¿me entiendes? Ella ya caminaba a algunos metros de nosotros — yo desaceleré los pasos para observar la escena, insistiendo dentro de mí para que el perro, por el amor de Dios, se alimentara —pero se quedó mirando a la mujer, mirando el plato, mirando a la mujer… metió la cabeza en el plato, y masticó con prisa mirándola a ella, como quien no quiere perderla de vista. Yo pasé a su lado, lo juro, con ganas de llamarla y decirle “¡Este es su perro!”, pero sintiendo un no sé qué, eso que dice “¡Qué tontería, olvídate de eso!”; simplemente entré a mi edificio. Al pisar mi casa, me acordé de Duque, que sabía cuándo yo llegaba por el ruido de las llaves allá abajo y me esperaba en el sofá, medio agachado, invitándome a hacerle fiesta. No tengo más a Duque. Sin sacarme la mochila ni nada, volví a cerrar la puerta y bajé por la escalera con una prisa en el corazón que tenía el compás de los pasos de la mujer. Salí del edificio en dirección al poste, pero de lejos se veía que el perro ya no estaba más allí. Me acerqué para estar segura. Era verdad; no había ninguna señal del perro. Pero la comida, la comida estaba allí, en el platito laminado. Prácticamente intacta.

Versión en español, por cortesía del amigo Raul Fitipaldi. Traducción: Tali Feld Gleiser.


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

um jeito meu de me dar

de repente eu agi como se houvesse uma possibilidade absurda, como se eu quisesse alguma coisa além daqueles olhos ali me olhando; eu, que era tão de mim que vinha sendo, que não levava nada pra casa, assim de graça, nem trazia, nem me permitia emoções que transbordam, que fazem rir doendo, que fazem querer esconder o rosto - sem vergonha. comecei a entregar minhas malas todas a um ser estranho, recém nascido pra mim, recém nascido pro meu mundo, sobre o qual eu havia lido alguma nota de existência anos antes, e que não me chamou atenção, que me passou batido como muitas outras coisas passaram batidas até ali. de repente eu estivesse frágil, diriam, carente? não era carência, não era fragilidade; eu posso afirmar que estava em meu momento fênix, me restabelecendo de uma onda cinza, mas já me sentindo forte, dando braçadas por cima de outra onda de espuma branca, sem pensar em ninguém, sem ter o desejo abstrato do romântico; porque todo o romantismo havia se dissolvido em mim há algum tempo, e eu já estava cansada de forjar maneiras de permitir que ele me arrebatasse novamente; o romantismo estava vencido. as contas de casa, algumas, vencidas. e as relações todas; tudo. então eu encontrei essa reencarnação de alguma possibilidade que não tem nome - veja bem, tente entender minha dificuldade: é tudo muito sem nome, sem adjetivo, é tudo muito atual, no momento da fala - e entreguei aparentemente sem dificuldade quem era eu naquele momento - mesmo que eu não soubesse quem era. Eu fui dando assim, oferecendo, mostrando, como um fornecedor apresenta um catálogo, quase sugerindo as cores. e a pessoa que ouvia, a pessoa que me assistia ali com aqueles olhos que não me conheciam, recebeu aquilo de modo desvalorizado, como se aquilo fosse um costume meu de me dar; não era. e agora eu não sei como eu pego isso tudo de volta.

terça-feira, 26 de julho de 2011

o mergulho

Começaram contando até três, e afundaram. Segundos ocos aqueles, com marteladas mudas e tiros nus; mas era água só, e a sede deles, os dois inchados feito peixes, olhando-se entre bolhas; vamos voltar? Voltaram. À superfície pareciam respirar um ar urgente e findo, como se voltassem à vida e fosse aquela a última chance. Um-dois-três, mergulharam. Arraias, areias, arranha-céus. Estrelas-do-mar, recifes, cavalos-marinhos. E os dois se olhavam sem ar, os dois a tatear o fundo do aceano do mar. Um-dois-três e já! Cabeças fora d'água, respirando feito filhotes que acabaram de nascer. Era o mundo de novo, um espaço aberto entre cores e sons. Tudo bem? Tudo bem, e pronto. Embaixo d'água novamente, a vida se revelava como um ultrassom; e os dois boiando, boiando, sendo simples. De repente, não se sabe o que que deu, ela tomou impulso com os pés-de-pato, ele deu umas braçadas ao norte, e eles se chocaram, snork contra snork, um-dois-três-e-já. Já eram.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

adeus azul

o adeus tem cor azul
a chegada é amarela, já reparou?
o adeus, como está em tudo
desperdiçado, comunitário
de todos é, e pra todos é
sendo o que foi e será
o adeus está, e esteve, foi
o que eu quis esconder um dia
pra depois me lembrar, pois
o que passou foi bom, e nem tanto assim.

quando era o adeus uma irmã,
sabia de tudo, cobria tudo
uma alameda por onde passavam casais

depois o adeus foi ficando distante da gente,
como se tivesse crescido, como se amadurecido
não pudesse falar, nem lembrar, de tempos atrás

hoje o adeus anda nas esquinas
embaixo dos viadutos, procura suspenso
um ar absoluto, de quem encontrou a paz
- por cima da gente o adeus nos cumprimenta
e às vezes inventa que fomos amigos,
nos amamos mais e mais

eu deixo para ele umas moedas
nem por dó, nem por estar só
e ele me recebe ainda
porque é linda, linda demais
a lua, a rua, as coisas todas
que juntos juramos esquecer - e faz
uns anos e uns trocados
que eu não me esqueci.

terça-feira, 14 de junho de 2011

vermelho

todos diziam que isso que era bonito neles. que desde o princípio tinham tudo a ver, mas ele muito tímido, e se conheceram depois que ela já namorava o outro. que ela sempre demonstrou interesse nas frases dele, de perguntar "ahm? por quê?" e rir do que ele nem tinha dito e ela havia entendido; detalhes dela que ele já sabia: o jeito de pegar nos talheres, de colocar o cabelo pra trás quando ria, de fingir que ia prendê-los e soltar, de escrever poemas e gostar de vermelho; mas ela sempre muito ocupada com o outro, não lhe prestava atenção, não lhe sabia os detalhes. parecia que ele sentia tudo sozinho! até que um dia, com a maior brevidade que cabia no sutil, ela olhou para ele, os dois sem dizer, e ficou dito. mas a vida continuou assim, e isso que era bonito neles.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

então era isso

então eu era essa palavra que estavam esperando; talvez um sim ou um não, alguma sentença de alívio, uma decisão depois da decisão. E eu descia os degraus, e subia escalando. Eu estava leve de uma leveza bruta, de uma sensatez estúpida e entorpecida. Eu estava diferente, sendo eu mesma. Daí me confortei com o que eu tinha do que eu não tinha mais, e se queria ainda ou não, era isso que eu tinha, e me aliviava, cada vez mais eu me aliviava, como se tirasse as roupas e as deixasse caídas ao chão; de uma nudez travestida, de uma nudez neon, eu era um sapo, uma princesa, eu era a madrasta, eu era uma porção de personagens cabíveis que não se continham unicamente em mim, e me extravasam, e todo mundo ficava sabendo. fora isso eu não era mais nada.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

a dor perfeita

De novo a dor. Quando ela chega, toda elegante, carregando a frieza como uma mulher de scarpin carrega a sua bolsa, eu finjo que nunca a tinha visto para vê-la enfim despir-se para mim outra vez. Reparo nela como quem aprecia um vinho antes de tomá-lo. Eu a contorno, quase como se a reconhecesse, mas para não desapontá-la, eu me entrego e choro. Penso em quantas vezes a revisitei de ângulos diferentes; às vezes chegava pela direita, às vezes pela esquerda, vinda de leve de cima, por baixo; nunca contudo atingindo o seu centro, nunca conseguindo – ainda buscando – a sua totalidade encarnada; como se fosse eu a adulta e ela a criança, eu tentava me fazer pequena para viver com ela aquele mundo, e fingia que no fundo eu não sabia que ela um dia passaria; que nem ela nem eu – a adulta – éramos permanentes. Eu cultivei a dor enquanto ela brotava porque entendo que ela me situa mais que a alegria. A alegria é uma moleca desvairada que vai pra todos os lados, indecisa e absurda, precisando ter limites e não querendo. A alegria faz eu me sentir injusta com alguém, como quando tomo água da torneira enquanto crianças padecem de sede e em algum lugar do mundo alguém paga cinco euros por ela. Mas a dor está toda aí de graça, e precisa ser valorizada. Chega em silêncio se instalando, e ninguém diz nada; então ela arma um escândalo, derruba muros, se embebeda e atropela; chega em casa tomada de humilhação e revolta, como um filho que volta da escola com o olho roxo; e eu só posso amá-la, vai passar, eu te amo, minha dorzinha. Procuro um cicatrizante pra ela, ela não sabe que está tomando o remédio da sua morte; eu penso em como quero ser alguém legal pro mundo, no quanto posso ainda fazer força, a minha parte; penso em como tudo é perfeito assim, em seu modo de respirar, até os seres sem pulmões, eles também compartilham esse ar, o ar da dor; linda ela, perfeita.


terça-feira, 10 de maio de 2011

carta amiga

Essa é uma vida de possibilidades, e de renúncias. Cada possibilidade, uma renúncia ou mais. A gente parece que nasce sabendo um monte de coisa, e à medida que cresce vai ficando mais estúpida em relação à vida. Não sei. Parece. Aumentam-se os temores. Talvez a dramatização diminua, é. A gente meio que perde a cara de pau pra ser dramática quando alcança os trinta. Eu tô quase lá. De vez em quando rola um draminha. De leve. Tanto que ninguém fica sabendo. Estou cada vez mais sendo de mim; minha boneca. Faço escândalos internos, fico magoada; depois passa. Não sei se contigo é assim. Tu és mais escancarada. Às vezes atrapalhadamente escancarada, porque, claro, é difícil encontrar a medida de ser. Eu sou contraída. Você expansiva. Acho. E invejo isso de uma maneira boa que me faz ser tua amiga, conviver, tentar ser mais - ou menos - alguma coisa. Invejo os que choram pra fora, os que se rasgam, os que se emocionam, apertam, pedem que não se vão, ligam de madrugada, entopem as caixas de mensagem das pessoas; essas pessoas não se torturam. Se soubessem a hora de parar - como eu não sei; já que eu nem chego a dar a partida - seriam tão mais acima dos outros mortais. Não sei por que te falo dessas coisas. Quando eu te conheci, e eu tinha o que, uns 18 anos, primeiro que eu não imaginava continuar tua amiga vendo os trinta chegar - naquela época de "efervescência" a gente não esperava nem o pôr-do-sol junto. Dez anos depois, ainda somos jovens, e já não somos mais. Tenho três sobrinhos, uma afilhada. Fiquei pra titia, nega. Troquei as crônicas do Veríssimo pelos poços profundos do Caio Fernando Abreu; não ouço mais hardcore, mas fiquei pesada. E também comecei a sentir certos arrependimentos. Se eu pudesse voltar atrás uma única vez na vida, não sei se voltava pra barriga da mamãe ou se pro vestibular, a tempo de escolher algo promissor. Fora o desejo de voltar praqueles dias de sol nos bancos da Federal, ou antes: praquelas tardes de domingo tomando banho de mangueira na casa da vó. Sabe, amiga, certas coisas levam anos. E são levadas por eles. Bom que você ficou.

quinta-feira, 24 de março de 2011

por muito tempo eu pensei em não ir; não estava lá, portanto, por que ir? e quem estava, já fazia tanto tempo, já fazia tão pouca falta, então pra quê? quando me disseram que havia lá alguma coisa que não sabiam nem dizer o que, eu até pensei em ir, para descobrir mesmo, ou para confirmar; porém avisaram, como se soubessem com certeza, que eu não poderia voltar. ah, pensei, se ir não fosse tão definitivo...

quarta-feira, 9 de março de 2011

melembro

às vezes eu me lembro de coisas que eu acho ninguém vai lembrar e sobe por dentro de mim e desce por dentro de mim até parar e eu esquecer de lembrar de novo dessa coisa que eu penso comigo de vez em quando e que não posso contar a ninguém porque só eu que me lembro acho só eu que me basto no acaso do que sou agora e ninguém vai perceber ainda que todo mundo diga que sempre soube que sempre é que sou mas desconfio que não sabem o quão profundo é o fundo da vida rasa que me arrasta.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Cara

O cara acendeu um cigarro. O cara acendeu um cigarro e jogou qualquer coisa fora. "Qualquer coisa" não porque fosse uma coisa qualquer, mas porque de onde eu estava não podia saber. O cara jogou o corpo pra trás no banco de madeira e deixou-se escorregar, penso, pra fumar com tranquilidade - até então o cara tava puto ou alguma coisa assim. As pessoas do lado do cara começaram a fungar e fazer cena de que não suportavam cigarro, ou fumantes - o que dá quase no mesmo embora o segundo caso seja mais grave, um tipo xenofobia. O cara olha pro cara da moto, os dois se engasgam, e o cara da moto quase atropela um cachorro. O cara fica puto. Não porque goste de animais, ele não tem a menor cara. Não sei por que então. Uma mãe passa o filho pro outro lado por causa do cigarro - ou do cara. Vai passando o tempo assim, essa tensão, esse thriller; daí então chega o ônibus, o cara se levanta assim, cheio de dominância; o cara vai andando em direção ao motorista, espera todos entrarem - não por educação, mas por privacidade que quer ter ali, na hora; nem pensa - e pergunta - cigarro nos lábios, olhos piscando na fumaça: "Esse ônibus aí... passa lá na Rua das Margaridas?". O motorista olha pra ele e bufa num riso; abana a cabeça negativamente. "O ônibus que passa lá fica na plataforma B." O cara passa o antebraço na testa pra secar, olha pra tal plataforma B, olha pro motorista. Ônibus ligado, fábrica de ar quente. "Aquele ônibus é muito caro", pensa o cara. "Duas quadras é quase nada", diz o cara. O cara apaga o cigarro com o pé direito, solta a fumaça e entra no ônibus. Lá dentro, ninguém mais repara nele; uns de fone de ouvido, outros conversando com os que estão em pé. Ninguém desconfia, mas ele é O Cara.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Resultado do II PRÊMIO LITERÁRIO CIDADE POESIA

Associação de Escritores de Bragança Paulista
Resultado


CATEGORIA: CONTO


A Associação de Escritores de Bragança Paulista – ASES – tem o prazer de divulgar o resultado do II Prêmio Literário Cidade Poesia. A solenidade de entrega de prêmios e o lançamento da antologia estão previstos para o segundo semestre de 2011, possivelmente nos meses de agosto ou setembro. Entraremos em contato com todos os autores abaixo relacionados a partir do próximo mês de março.


Melhor conto na categoria "autor bragantino":

O elixir da longa vida
Autora: Milena Dias de Paula – Bragança Paulista


Categoria Geral (mais de 400 inscritos):

1° lugar:
O polvo
autora: Rita Isabel dos Reis Garcia Fernandes – Amora - Portugal

2° lugar:
A maçã
autor: Camões Ribeiro do Couto Filho – Taubaté – SP

3° lugar:
São Raimundo da Viola
autor: Jorge Sebastião dos Santos – Belo Horizonte – MG.


MENÇÕES HONROSAS
( em ordem alfabética de autores)

O Quimono
André Kondo – Jundiaí – SP

Depoimento
Benilson Toniolo – Campos do Jordão – SP

O cabelo loiro
Gracieli Borges Ferreira de Souza – Alfenas – MG

Torta de Palmito
Henrique Alberto Alves Ferreira – Diamantina - MG

Bio Boi
João Paulo Parísio – Jaboatão dos Guararapes – PE

A maçã do amor
Priscila Lopes – Florianópolis – SC

Pirilampos
Renato Benvindo Frata – Paranavaí – PR

DEMAIS CLASSIFICADOS PARA A ANTOLOGIA:
( em ordem alfabética de autores)

- O arranjo
Ana Cristina Mendes Gomes – Rio de Janeiro – RJ


- O ateu que acreditava em Santos
Anderson Ferreira S.Alcântara – Goianésia- GO

- Obsessão
António José Barradas Barroso – Paredes – Portugal

- Rei velho, Rei Novo
Bethânia Pires Amaro – Salvador - BA

- A catequese
Dinis Reis Sutil Miracho – Lisboa – Portugal

- Vó Lucrécia
Evandro Figueiredo Cândido- Elói Mendes –MG

- Livro de Sonhos
Iverton Gessé Ribeiro Gonçalves – Nova Prata – RS

- Manhã de inverno
Paulo César de Oliveira Tórtora – Rio de Janeiro –RJ

- Desatentado
Ricardo Maggessi Viola – Lambari- MG

- Homens
Rodrigo Alfonso de Figueira – Porto Alegre – RS

* * *

Se deseja adquirir um exemplar do meu livro de contos diretamente comigo

escreva para

pricostalopes@gmail.com

Obrigada!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

canção de consolo

pra quando lembrar, cessar o olhar nesse outro ser; deixar entrar no teu coração o sim do não que passamos juntos. pra quando lembrar, não restar nenhuma dúvida pendurada em tua garganta, nenhum furor, nenhuma fama, e podermos lamentar o que não fomos quando tínhamos; pra quando lembrar, meu bem, estarei disposta a esclarecer o que tiver de esclarecer, e contigo esquecer o que agora não consigo; eu só te peço que não, não nessa encarnação, enquanto somos o que nós temíamos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

intervenção

Primeiro, eu não era tão nova que não pudesse acreditar; nem tão limitada que não pudesse alcançar. Eu só tive medo, e não sabia antes do quê. Antes era um vidro embaçado. Antes era uma espinha de peixe de lado na garganta. Você sabe sobre o que eu estou falando, até quem não passou por isso faz uma ideia. Depois éramos tarde demais - eu sempre volto nesse ponto que não-sei-bem-o-que-é-isso. E viemos antes que todos pudesssem se prevenir, fizemos planos "incumpríveis" - e criamos um dicionário todo nosso, do qual hoje não posso fazer uso com mais ninguém; vivo a evitar certas palavras. Assim: eu fui desistindo, você foi desistindo, a gente nem se fez. Vale lembrar que eu te avisei, e você me avisou, como era impossível de se conviver, ainda que a gente tenha encontrado nessa coincidência a oportunidade boba de fazer durar alguma coisa. Após esses rodopios do tempo envolta da gente, eu me recordo não que te perdi, mas que te esqueci de trazer, e já não sabia onde havia posto, e como sempre estou atrasada, tenho que ir, vou andando...

Mas eu te espero ainda; como quem sonha em ganhar na Mega Sena, e não joga.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Selecionada no III Prêmio Literário Canon de Poesia

Com tema livre, o concurso, que teve sua abertura na 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, recebeu mais de 3 mil inscrições. Foram escolhidos os 50 melhores textos, que serão reunidos em um livro a ser lançado nos primeiros meses de 2011.

Disponível em: http://www.canon.com.br/Noticias.aspx?id=24377&origem=2


A pedidos...

Corpus Triste


Ando à beira do teu pesadelo-mãe.

Teu espectro na janela do banheiro

- a visão exacerbada de um anjo.


Para dentro das minhas trevas atravessam,

contemplam meu aspecto macilento

- anunciação.

Receio que esteja incomodando

esse parafuso em tuas mãos,

esse para-raio em teus cabelos.

Há tanta soberba, comentas,

eu sou teu irmão!


Nossos corpos

- vasos das mesmas mãos

: veneram opostos

- hóstias hostis.


(não creio em sono que perdure)


Durmo durante o dia.

À noite a Terra grita

- garganta em mim.