terça-feira, 26 de julho de 2011

o mergulho

Começaram contando até três, e afundaram. Segundos ocos aqueles, com marteladas mudas e tiros nus; mas era água só, e a sede deles, os dois inchados feito peixes, olhando-se entre bolhas; vamos voltar? Voltaram. À superfície pareciam respirar um ar urgente e findo, como se voltassem à vida e fosse aquela a última chance. Um-dois-três, mergulharam. Arraias, areias, arranha-céus. Estrelas-do-mar, recifes, cavalos-marinhos. E os dois se olhavam sem ar, os dois a tatear o fundo do aceano do mar. Um-dois-três e já! Cabeças fora d'água, respirando feito filhotes que acabaram de nascer. Era o mundo de novo, um espaço aberto entre cores e sons. Tudo bem? Tudo bem, e pronto. Embaixo d'água novamente, a vida se revelava como um ultrassom; e os dois boiando, boiando, sendo simples. De repente, não se sabe o que que deu, ela tomou impulso com os pés-de-pato, ele deu umas braçadas ao norte, e eles se chocaram, snork contra snork, um-dois-três-e-já. Já eram.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

adeus azul

o adeus tem cor azul
a chegada é amarela, já reparou?
o adeus, como está em tudo
desperdiçado, comunitário
de todos é, e pra todos é
sendo o que foi e será
o adeus está, e esteve, foi
o que eu quis esconder um dia
pra depois me lembrar, pois
o que passou foi bom, e nem tanto assim.

quando era o adeus uma irmã,
sabia de tudo, cobria tudo
uma alameda por onde passavam casais

depois o adeus foi ficando distante da gente,
como se tivesse crescido, como se amadurecido
não pudesse falar, nem lembrar, de tempos atrás

hoje o adeus anda nas esquinas
embaixo dos viadutos, procura suspenso
um ar absoluto, de quem encontrou a paz
- por cima da gente o adeus nos cumprimenta
e às vezes inventa que fomos amigos,
nos amamos mais e mais

eu deixo para ele umas moedas
nem por dó, nem por estar só
e ele me recebe ainda
porque é linda, linda demais
a lua, a rua, as coisas todas
que juntos juramos esquecer - e faz
uns anos e uns trocados
que eu não me esqueci.