sexta-feira, 30 de julho de 2010

"Uns traços, todos imponderáveis", Priscila Lopes


então me lanço à "carreira solo"
com este livro de contos
o apoio da Bolsa da Biblioteca Nacional
para autores com obra em fase de conclusão
e o primoroso trabalho da Editora da Casa
* * *
lançamento em 16 de agosto, às 19h
no Café Cultura do Centro de Floripa
* * *
abertura da exposição Imponderações
com seis artistas convidados a produzir
inspirados no livro que será lançado
* * *
aguardem maiores informações

sexta-feira, 23 de julho de 2010

traída

Tenho pensando cada vez menos em você. Antes acontecia, podia estar feliz da vida, como dizem, podia estar olhando as estrelas num ponto alto da cidade, acontecia de me lembrar de você, e as estrelas caíam, o céu desmontava, meus olhos enxergavam a altura. Com o tempo, não sei se fui me acostumando ou se realmente aprendi a ignorar, simplesmente começou a acontecer de você se manifestar cada vez menos nas coisas. Uma música, uma cena na novela, um vizinho contando, vinha você, vinha você, e saía, sumia mesmo, parece que se afastava triste por não ter me causado nenhuma indigestão. Eu já consegui até me envolver com outra pessoa e pensar que o que você fez comigo não foi tão grave - "foi até melhor assim", já cheguei a esse nível de pensamento elevado. Ontem à noite, confesso, pensei muito. Porque quis mesmo. Eu me servi um vinho, eu me coloquei uma música, eu me sentei no sofá pensando em você; na verdade, daquela longa lista de perguntas que eu tinha pra lhe fazer, só restaram as que me causam certa preocupação contigo ainda - por amizade apenas: será que vocês moram juntos? será que lhe apresentou à mãe? será que ainda estão empolgados? ou será que ele já começou a fazê-la sofrer como fez comigo um dia?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

salvação

Primeiro eu quis ficar pequena. Eu desejei de mim uma pequenez tão miúda que ficasse cada vez menor até desaparecer sua essência; vista de cima, a imagem fetal encolhida sobre lençóis brancos, espiralando. Depois comecei a pensar demais em mim, e a me compreender, me tolerar, entender que sou mesmo assim, mas que ainda tenho salvação. Comecei a fazer desenhos mentais do que eu pretendo, e de como vai ser bom daqui pra frente agora. Daí surgiu em mim - assim como se surgisse uma gotinha de infiltração numa rachadura na parede - surgiu em mim uma sensação de que tudo é tolerável, uma clareza que me fez, por instantes, amar a vida com tanta precisão, sabe! Eu vi isso indefinido desabrochar em mim, e crescer, crescer, crescer - sem forma sem nome - ficando enorme, até abraçar um monte de gente, e eu perceber - tudo muito rápido, preciso que entenda; não dura, não dura para sempre - eu percebi que a gente se ama; a gente, o Mundo; a gente tá aqui pra isso, pra ser isso, e cada um já se sabe que vai dizer essas coisas, e vai ter que ouvir essas coisas, e fazer ou não fazer coisas, mas se a gente compreende - como eu fiz e quase enxerguei alguma coisa perto de Deus - ganha uma liberdade escancarada para se sentir como quiser. A gente se salva.