segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

a coisa mais precisa

Após todas as idas&vindas de ejaculações dramáticas, eles ficaram um ano sem se falar sem que tivessem tomado decisão alguma; sem que agora recordassem quem foi o último a se pronunciar e o que disse para o outro tê-lo deixado sem resposta. Até então eles eram uma soma de traições e verões inflamados em que se devoraram; duas flores carnívoras. Sempre voltavam. Aí ela veio com aquela história de que iria se casar, de que ele não a levava a sério e agora nem ela sabia se o levava. Depois ela foi sumindo aos poucos e sem noção, não respondia em tempo hábil de se encontrarem, desativou o único número que tinham para contato, e foi desabando tudo que era ponto de referência seu na internet; virou a realidade numa tormenta tamanha que ele passou a depender dela pra tudo, até para se comunicar em pensamento. Então ele arrumou outra, e foram sendo os dois assim por um tempo: ela esposa, ele namorado. Sempre voltando para a sede que ainda tinham, mas tomando goles cada vez mais difíceis de descer - tinha coisa até que empurravam goela abaixo como se fossem obrigados a engolir aquilo. Não eram. E ela lhe chegou, depois de uns três meses sem dizer nem ver, chegou para ele com palavras escritas e contou sem que sentisse necessidade mais de ser melodramática, sem que sentisse mais necessidade dele até, ela contou que estava grávida. Do outro, claro, do verdadeiro, o vencedor, o todinho dela; e ela todinha do outro agora, abraçada pelo meio das pernas, chocando. Ele, ao ler aquilo, choveu. Ele molhou. Ele chupou os lábios pra dentro da boca que não tinha nem o que responder. Quase uma década de ponderações métricas sobre se aquilo era mesmo o melhor a fazer, voltarem; aguardando uma resposta divina que chegasse e tomasse por eles a decisão sem que doessem, esperando, sabe-se lá, que alguém morresse ou os raptasse ou os mudasse de plano espiritual; para chegar "ao final", e a Vida lhes dar a única definição, a coisa mais precisa.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

valer a pena

Comecei a sentir pena do mundo, e eu estava dentro. A gente ficava cada vez mais triste, cada vez mais querendo e faltando, empurrando e não indo; as coisas aumentando a nossa volta e a gente encolhendo. Lembro-me que abracei uma criança, agachada atrás de um balcão, e fiquei do seu tamanho para lhe dizer que não crescesse, senão não passaria mais naquela porta para o mundo das maravilhas, que é como aquelas portinhas do desenho do Tom&Jerry - que eu nem sei se ainda é transmitido na TV, porque eu encolhi com o mundo mas sou dessas coisas grandes e destrambelhadas como, como um elefante, é, um elefante animado e rosa, que faz dom-dom dom-dom quando caminha, mas a gente caminha feito formiga intoxicada, cada um com seu nada, e todo mundo querendo, puxando; ok, baby, generalizei - sou do tempo que se falava "baby" com um cigarrinho pendurado nos lábios - nem todo mundo é assim puxando, querendo, apertando; não é. Mas ainda é de dar pena. Tanta pena tanta, que eu fico com vontade de abraçar as pessoas - até aquelas que escorrem por boeiros nas cidades - e fazer silêncio, que vai melhorar, que tamo junto, que vou ficar aqui no mundo com elas, até passar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

cera quente

Primeiro eu te sorria; tinha a memória seletiva de um cão. Era fácil assim. Você me entregava uma verdade tão absurda que era quase surreal, e eu achava admirável tamanha sinceridade; eu te sorria. A gente se abraçava no mundo e comemorava o encanto que éramos, de discretos e honestos e inocentes. Eu te dava paciência, e a paciência era também o nosso pão; a gente comia disso todo dia sem reclamar. E tu me davas uma porção de coisinhas, como estrelinhas de pelúcia coloridas, como esses móbiles de berço de bebê. Eu estava te esperando. Mas eu só estava te esperando porque você estava se preparando para mim. Você um dia iria chegar, e seria muito melhor que aquilo – se aquilo já era bom, com todos os seus defeitos, imagina quando ficasse; quando a gente progredisse e eu não tivesse mais que te dar paciência e nem tu explicações. Não foi bem assim, devo admitir. Quero dizer, você até que fez a sua parte. Quando chegou a minha vez, eu calei a voz do peito mas ainda ouvia os gritos que abafava para que tu não soubesses que eu era uma corrompida, que minha força era fraca. Depois você foi ficando cada vez melhor pra mim e quanto mais isso acontecia, mais eu enxergava que o que vivera até então era uma ilusão, uma falta de amor próprio; que não deveria nunca ter ficado esperando por ti, porque na época tu não valias nada. E eu comecei a recapitular nossos momentos, e a perceber o quanto eu já estava neles e tu inatingível: o último dia dos namorados, em que você escreveu no box que eu era uma bonitinha – depois fiquei sabendo através de um amigo, por acaso e sem malícia, que para ela havias feito assim o convite pra se casarem. Sabe, eu comecei a te conhecer depois de um ano e a descobrir que não havia conhecido, e que o que havíamos vivido era superficial. E em vez de me tornar uma pessoa agradecida, por teres te tornado muito mais do que eu pedira, eu comecei a ter por ti um sentimento que não é nem de raiva nem de dor, mas tão parecido com a simbiose disso que posso chamar de mágoa. Se o tempo todo poderia ter sido assim, por que não foi? Por que agora? Onde esteve esse tempo todo, e o que pensava, o que sentia? Essas perguntas todas não te faço – o tal grito que calo com teus lábios – pensamento que espanto feito moscas. Mas uma decisão eu tomei, e serei fiel a ela como não foste a mim: eu vou tirá-lo de mim. Infelizmente, não vai dar pra ser agora, com estupidez e arrogância – eu suporto uma depilação com cera até duas vezes por mês e não suportaria isso. Decidi que será como arrancar um adesivo que há muito tempo foi colado ali. Tem que ser pelas pontinhas, distraidamente, de vez em quando, talvez até molhar um pouquinho. Se eu arrancar de repente, pode deixar o rastro do teu papel, e eu não quero viver por ti o que tu viveu por ela e não me deixou ser feliz.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

já ia

Eu já sei o que você vai dizer. Que eu já tenho trinta anos na cara, que já pensei que não amaria de novo antes, e várias vezes, que eu já perdoei coisa pior e já pedi perdão por coisa que-meu-deus-do-céu; que eu era um galinha escroto aos vinte e sou uma mulherzinha atordoada aos trinta. Depois eu vou te lembrar das tuas também: daquela vez que você ameaçou se afogar na lagoa, morrer de amor; caminhou uns cem metros adentro com a água ainda na cintura, e a guria te olhando da beira da praia, a galera toda assistindo, deixando pra ver até onde você ia; você é muito raso, meu amigo, você não corre riscos. Conheceu, casou, deu; filhos, videoteca, casa no sítio. No fundo, eu queria ser você e você queria ser mais eu; mas não deu, pronto, chega.

sábado, 9 de outubro de 2010

Raios! Maçãs premonitivas atacam sendo. Ontem éramos hoje, e nunca saberemos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

caraminholas

Primeiro assim: pontinhos coloridos; depois começam a girar girar e esticar as cores até formar dois caracóis médios; então sai do papel e vai um caracol pra cada lado da minha cabeça; ficam girando na altura da orelha; eu olho assim pro mundo, e os caracóis girando pra que eu ouça suas cores; parece um disco na vitrola, mas em vez de som começa a vir um cheiro, o cheiro dessa coisa de que necessito, e que chamo com uma quase alegria de inspiração; acho bonito o nome e começo a senti-lo, calculadamente; até que os caracóis ficam muito mais rápidos do que cabe em mim ouvir cheirar e eu começo a escrever escrever escrever como se os dedos tivessem a medida dos giros e o mundo fosse ter fim; eu escrevo giro escrevo giro escrevo giro e de repente acaba, como a criança que é parada num carrossel pela estupidez carinhosa da mão de um adulto; e tudo pede pra eu ter calma, e tudo diz que vai voltar, calma, vai voltar, mas eu sempre desconfio.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

medo

andei com medo. andei com medo abri uma porta e tranquei o medo lá dentro; era minha aquela porta, era minha. subi uma montanha, subi o mais alto que pude, deixei o medo lá mesmo; ele voltou rolando por cima de mim, descemos morro abaixo, trepidantes os dois de encontro aos rochedos. atirei o medo às ondas que estalavam ameaçadoras emergindo rupturas; o medo estava quase se afogando. o medo tem medo da água, de altura, de quartos escuros; o medo é meu; só eu sei o quanto tenho medo de perder o medo, e ir.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

alguns registros do lançamento em Floripa

Coquetel de lançamento de "Uns traços, todos imponderáveis"
Fotografia: Leonardo Gaudio


Café Cultura Bistrô
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Performance de Luiza Lorenz

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eu mesma.

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mais uma vez agradeço a presença de todos

estas são apenas algumas das fotos

devo divulgar todas no orkut em breve.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

a novidade

Começa a tocar uma música. Começa a tocar uma música, eu coço meu ombro, finjo que não li, que não sei, que não notei que ele está a minha frente; penso: enfrente, mulher, enfrente, seja adulta, seja você, seja, mulher! As vozes baixam aos poucos porque há uma música e todos querem tentar reconhecê-la - nós já sabemos. Eu tusso. Imagino-me escrevendo isso pra ele um dia, uma carta, um e-mail, e acho estranho escrever a palavra "tusso"; então começo a rir porque sei que ele me entenderia e não entenderia como posso ser assim ainda, depois de tantos anos, como posso não ter amadurecido nesse ponto de fazer piada até com a morte da galinha. Agora o riso é incontrolável, entortando-me os lábios, que mordo mordo, parem, por favor, parem. Lembro da história da galinha dele que morreu tragicamente e que me fez rir aquela noite, mas eu já tinha bebido uma vodka, eu lhe disse; ele ficou arrasado. Essa história de vez em quando vinha à tona, pobre galinha. A música parou e deu lugar a um amontoado de vozes, e de repente posso distinguir entre tantas vozes, uma mais grave, uma um pouco mais aconchegante, e meu olhar procura num desespero alegre de ver chegar o outro. O outro. Já vem falando de longe de quantas voltas teve de dar para encontrar uma vaga, e vem com flores e tudo, cheio de novidades, novinho em folha; então é a sua vez.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

"Uns traços, todos imponderáveis", Priscila Lopes


então me lanço à "carreira solo"
com este livro de contos
o apoio da Bolsa da Biblioteca Nacional
para autores com obra em fase de conclusão
e o primoroso trabalho da Editora da Casa
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lançamento em 16 de agosto, às 19h
no Café Cultura do Centro de Floripa
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abertura da exposição Imponderações
com seis artistas convidados a produzir
inspirados no livro que será lançado
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aguardem maiores informações

sexta-feira, 23 de julho de 2010

traída

Tenho pensando cada vez menos em você. Antes acontecia, podia estar feliz da vida, como dizem, podia estar olhando as estrelas num ponto alto da cidade, acontecia de me lembrar de você, e as estrelas caíam, o céu desmontava, meus olhos enxergavam a altura. Com o tempo, não sei se fui me acostumando ou se realmente aprendi a ignorar, simplesmente começou a acontecer de você se manifestar cada vez menos nas coisas. Uma música, uma cena na novela, um vizinho contando, vinha você, vinha você, e saía, sumia mesmo, parece que se afastava triste por não ter me causado nenhuma indigestão. Eu já consegui até me envolver com outra pessoa e pensar que o que você fez comigo não foi tão grave - "foi até melhor assim", já cheguei a esse nível de pensamento elevado. Ontem à noite, confesso, pensei muito. Porque quis mesmo. Eu me servi um vinho, eu me coloquei uma música, eu me sentei no sofá pensando em você; na verdade, daquela longa lista de perguntas que eu tinha pra lhe fazer, só restaram as que me causam certa preocupação contigo ainda - por amizade apenas: será que vocês moram juntos? será que lhe apresentou à mãe? será que ainda estão empolgados? ou será que ele já começou a fazê-la sofrer como fez comigo um dia?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

salvação

Primeiro eu quis ficar pequena. Eu desejei de mim uma pequenez tão miúda que ficasse cada vez menor até desaparecer sua essência; vista de cima, a imagem fetal encolhida sobre lençóis brancos, espiralando. Depois comecei a pensar demais em mim, e a me compreender, me tolerar, entender que sou mesmo assim, mas que ainda tenho salvação. Comecei a fazer desenhos mentais do que eu pretendo, e de como vai ser bom daqui pra frente agora. Daí surgiu em mim - assim como se surgisse uma gotinha de infiltração numa rachadura na parede - surgiu em mim uma sensação de que tudo é tolerável, uma clareza que me fez, por instantes, amar a vida com tanta precisão, sabe! Eu vi isso indefinido desabrochar em mim, e crescer, crescer, crescer - sem forma sem nome - ficando enorme, até abraçar um monte de gente, e eu perceber - tudo muito rápido, preciso que entenda; não dura, não dura para sempre - eu percebi que a gente se ama; a gente, o Mundo; a gente tá aqui pra isso, pra ser isso, e cada um já se sabe que vai dizer essas coisas, e vai ter que ouvir essas coisas, e fazer ou não fazer coisas, mas se a gente compreende - como eu fiz e quase enxerguei alguma coisa perto de Deus - ganha uma liberdade escancarada para se sentir como quiser. A gente se salva.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

obstrução

mesmo que eu sem pensar proponha; não me deixe. que no momento que a boca disser, a mesma boca que te beija, a mesma boca que te come, te mastiga, te atravessa, a boca que te disser é uma boca que não presta; não me deixe. que o momento é sempre outro, está mais pra frente um pouco; a gente sabe, é inevitável o desencontro, mas fica pra próxima; não me deixe. que a briga de anteontem, já passou, o choro de onteontem foi só meu, e eu me viro, eu me atiro, eu me vou; mas não me deixe, por favor, não me deixe antes que eu me vingue.

terça-feira, 15 de junho de 2010

amor eu sei

então-tá-amor, é muito claro.
soube que você não é assim como eu tinha pensado, e que não suporta mais me suportar; soube que anda enjoado, que precisa andar distraído, mas que está muito claro e evidente tudo isso que sinto, amor; soube que quando teu olho me vê, não enxerga um quê, um brilho, essa coisa que quando explode coração exclama oh!, ah!, ai ai!... soube que eu não me comparo, que eu não chego aos pés, que eu não sou aquilo, que eu não sou aquela, mas que você me ama, amor; que você me adora e não quer que eu vá embora. Eu soube disso tudo, amor, e não duvido. Porque você me disse.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

carta curta

Procuro andar distraída, e caio em coincidências. Tento evitar; quando vejo, tô pensando de novo. Desculpa. Estou tão impedida de tudo que eu me sinto obrigada a ao menos te escrever para não explodir desproporcional e louca, extravasando o que eu sinto de uma forma que literalmente "ninguém merece". Já tentei todos os improvisos possíveis para não meter os pés pelas mãos. Às vezes tenho medo de que, me vendo imóvel - ainda que amordaçada, ainda que algemada - pense que faz parte de mim ser assim, que vou bem-obrigada. Na verdade, como uma lagartixa, sou só eu ali, me fingindo de morta; no fundo bolando uma estratégia para sair daquela situação o mais rápido possível - já se passaram alguns anos. Momento "perguntas retóricas": por que para mim é tão insuportável, e você vai vivendo? Por que para mim é todo dia isso, e você de vez em quando? Por que eu me sinto tão preparada agora, e você me postergando? Até quando? Sonhei contigo. Sonho toda semana. O sonho é uma realidade aumentada. Um dia você vai saber. O problema é que não sei de quanto tempo vou precisar contigo; por isso que já não te peço mais nada. Mas eu te escrevo com tanta certeza, sabe? Eu te quero com todo o meu coração. Brega até. Mas não é exagero. É muito-muito verdadeiro. De chorar até. Mas quase sempre eu sou feliz.

terça-feira, 1 de junho de 2010

girassol

Amarela. Sorri girassol. Contempla horizontes. Onde? Onde? Acende odores que minha lembrança esconde. Surpreende e reza. Ajoelho e penso que é a voz de nós. Desatamos, desatamos; e só nos prende o que não segura a loucura que é sermos dois, duas, iguais em gênero e graus. Diferentes, daqui a pouco sente que o caminho é outro, que o agora é muito pouco, e faz as unhas, diz que é mulher de um homem só. Não sou, sozinho, não sou. Correspondo a mim e me igualo a qualquer um. Corro na rua; ela no sinal, pára o trânsito e grita vermelho, verde; amarela. Ela. Vai na frente. Ela. Ela. Estampando os dentes, corajosa. Ela. Ela. Ela. Eu, quase sempre, fico pra trás.

sábado, 22 de maio de 2010

dois

Quando combinavam, nunca dava certo; um sempre faltava. Era mais fácil quando não sabiam - ah, como se ninguém soubesse! As mãos segurando uma impaciência que não se continha; os lábios se apertando de vontade. Duas crianças. Em certas ocasiões duravam madrugada adentro sem nem conversar. Mas não havia graça em ser só eles dois. Outro casal os excitava. Chegavam a enrolar mais um pouquinho, esticar ao máximo o fio do tempo até arrebentar-se numa gargalhada. Parceiros, cúmplices, insuportáveis até. Enumerando as esperas. Olhares cruzados no silêncio de um cigarro. E o gozo final, vitorioso: ... cinco, quatro, três, dois... Toma! Bati!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

cachorra

Ou então não seria feliz com mais ninguém.

Via que voltar era um caminho se apagando. Farejava os espaços agora ocupados por outras pessoas; não reconhecia um cheiro que lhe tivesse pertencido. O cheiro do seu dono. Não era saudade, não era nem isso! Era aquela coisa que fica até chato falar porque não se sabe o que é pior: ouvir ou ter confessado, o apego. Um dia fugiu de casa, foi assim. Não sabia que fugiria; não sabia nem que estava indo a algum lugar e, portanto, voltar era algo que não havia cogitado. Quando viu, já era noite. Sentiu-se acolhida em tudo que era barzinho, lanchonete, balada. Ninguém mandava nela, ali, gostavam dela assim. E várias pessoas lhe ofereceram onde ficar, lhe fizeram carinho, brincaram com ela. Tanto que ficou mais um pouco. Dois dias no máximo. E voltou porque voltava, simplesmente. Talvez voltasse pra compartilhar com ele uma alegria que era só dela. Talvez porque apenas uma dose daquela droga de liberdade tivesse sido suficiente. Talvez, ainda, porque ele precisasse muito mais dela, e já devia estar sabendo disso. Ou...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

os noivos

De vez em quando se olhavam, pensamento querendo. Enquanto um tentava solucionar um problema que era só cálculo - ainda assim suficiente para levar a mão esquerda à testa - o outro já havia desistido. De tanto olhar, às vezes se falavam. Quase fúteis. Equilibrados numa espera que era só deles, e que - sabiam eles - tinha de se perpetuar; mentalizavam conselhos infantis: calma, calma... é só não olhar pra baixo. E prosseguiam em pequenas doses de alívio e ansiedade a cada quinze dias. Às vezes também, pra piorar, um deles faltava. Mas até saber disso, como ter certeza? Como evitar os olhos na porta, a pergunta que não se tinha a quem fazer? Foi esse quase por quase dois anos. Até que se tornaram especialistas, e cada um foi morar noutro lugar. Ainda bem.

terça-feira, 20 de abril de 2010

encontro

Ela andava perdida perdida. Pra lá e pra cá, visitando gente, imitando o Creysson, fumando o Bob, chamando o Hugo. Estava, digamos, tentando se encontrar, procurando entender seu lugar no mundo etc. Não queria se casar, não é isso. Tinha acabado de acabar uma dessas histórias parecidas. Mas estava à procura, sabe como é, viver um desses lances superficiais pra nunca mais voltar, pra não olhar pra trás e se arrepender do que faz, como diz uma natalina. Talvez tenha visto nele uma chance dessa. Talvez ele tenha visto nela algo semelhante. Um tric tric, um tatibitate, um spitnick, enfim... alguém sentiu alguma coisa suficiente para. E ela que não era de entrar, e ele que não sabia se sair, acabaram se encaixando por lá mesmo e deu no que deu. O vicio tem dessas coisas, depois é que começam as coceirinhas e se descobre uma intolerância à lactose, alergia a camarão, indigestão com coisas que levam gergelim. Vai entender! Só sei que os vejo juntos, ainda: o sorriso dele no ombro dela, as marcas dela no pescoço dele, e a sobreposição de tons das roupas que nunca estão combinando, que nunca parecem concordar que vão pro mesmo lugar. Mas já estão lá, sabe, se acharam.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

tudo novo de novo

Não queria roubar-lhe flores, presentes, apetrechos de antigas relações, imortais. Chegou com uma taça de silêncio - queria experimentar o improviso simpático de quem não sabe por que veio - desajeitou as almofadas do divã, rolou pra baixo do tapete. Observa. Observa. Venera tanto que abala. Por fora tudo em concordância, conjunturado; costurando e descosturando línguas e lábios, alinhavados. Sede. Suspiro. Certeza? (parece desajeitada ela, tentando evitar a queda, do chão; tentando parar o trem nos trilhos, com a mão). Ignora que que cada encontro é uma saliva sua que sai da boca, é um cheiro seu no outro corpo, é um peito que vai beijado pela mão de outro; costas, nuca, pescoço; até ir-se toda, inteira, e não ter mais volta.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

sobre avisos e promessas


Soube que se separaram. Não pude conter a petulância de vir até aqui, de sair sabe lá Deus de onde, e vir, sabe lá Ele com que forças, até aqui, pra dizer que eu te avisei. Eu te avisei, eu te avisei. Eu disse tantas vezes que poderia citá-las pra que adormecesses, meu anjo. Eu disse e pensei e acho até que incomodei você com esse assunto por meses, até que você se foi, e eu entendi mas não me conformei, nunca. Não sou homem de mascarar sentimentos, não sou homem de achar que é humilhação qualquer palavra dita num momento de emoção. Até mesmo os palavrões; venero todos, e os trago pra junto de mim, e os abraço - são filhos meus naquele instante. De te esperar, a vida foi ficando. Depois, antes que eu encontrasse uma forma de te reencontrar, perdi o ânimo que me levava a tomar conta de você, a espreitá-la sussurrante, a recusá-la de tanto amar. Fiquei sabendo que estavam bem. Fiquei sabendo que tiveram um filho. Esperei você me ligar nesse dia, como se houvesse possibilidade - havia? Esperei você me ligar no mês seguinte, e naquele ano todo eu andei por lugares em que corresse o risco. Até que um dia eu vi num fime... não, eu ouvi numa música... eu li no Coríntios... eu pensei comigo... que o amor é paciente, ô se é, o amor é um doente bêbado que vive cantando na sarjeta; ou um balão desses que transportam pessoas, que a gente olha pro céu e não acredita como é que voa. E eu te deixei de lado, e eu me deixei ser feliz. Mas agora recebo notícias tuas na Páscoa. Vocês se separaram. E você tem um filho pra criar; eu sei, esse cara não tem condições de lhe pagar uma pensão. Então eu tô te escrevendo aqui pra esse e-mail que me disseram que de vez em quando você acessa. Tô escrevendo pra pedir tua conta bancária e tua agência, teu retorno, teu carinho - tua carência? - teu perdão; tudo-tudo, e simplesmente que, por favor, minha filha, volte pra casa. Beijo do pai, da mãe e do cachorrinho Tobby.

quarta-feira, 24 de março de 2010

constatação

Estava sóbria. Caminhava pensativa de si consigo sobre os outros. Então é só isso mesmo: a gente chega aqui, nos 20, nos 30, nos trinques... e ergue a taça da vitória dos erros acumulados que não voltarão a ocorrer. É isso só, a vida, conjunto de situações que servem pra deixá-la mais experiente, dizem, pra não revisitar equívocos. Sorri estridente, mordisca o lábio por dentro, e olha adiante, aberta aos erros inéditos. Toda arreganhada, sem vergonha; vive bêbada.

sexta-feira, 12 de março de 2010

sinto que

Lembro-me de que abrira a porta só pra sentir a respiração do dia. Encontrou silêncios no meu quarto que varreu discretamente para baixo. Você sabe que está ali comigo, você sabe desde o início. Eu disfarço que, bocejante. Como se de mim tranquila, me espreguiço à beira de um sentimento contorcido. Penso que é bom dia: bom dia, amor - não digo. Penso nisso o dia inteiro até dar boa noite, meu bem, estou indo. Compro doces que não dou. Decido que como todos menos um. Enfrento a vitrine da floricultura num shopping. Não sei que flores querem dizer que. Disfarço um presente sem papel, acho mais fácil assim. A entrega não é fácil, nunca foi pra mim. Agora deslizo do sofá para o chão, abraçando. Estou armando um sorriso, talvez desague. Você aguenta. Você aguenta por nós, por dois - você tenta ser mais: eu acolho todos que é. Somos infinitos ali, desfilando corpos conjugados (e espaços em branco que a mente procura ocultar pra nos deixar pensar o que quiser). Eu sou tua, eu sou tua - é meu grito. Mulher! Mulher!

quarta-feira, 10 de março de 2010

sobrou pra mim

Sobrou pra mim. Herança kármica. Ferida pra lamber adoecida por mim. Comprimidos contínuos no pires ao lado da caneca de cidreira. Sobrou pra mim. Um roupeiro, uma cômoda com cupim. Um ventilador que não gira, um aquário sem peixes, um depilador a pilha. Será que eu encontro o que me falta no Móveis Usados? num Sebo, num Secos e Molhados? Será que encontro na ausência o que me completa, esse ai de mim? Até então eu saía das lojas sem comprar - sem me vender; passava os olhos nas vitrines das casas que representavam a família que eu queria ser. Sobrou pra mim. Um gato bordado no pano de louça, uma lã, um fiapo de esperança que espera espera espera... espreguiçando-se do quarto à sala. Um disco do Chico senta e às vezes chora comigo. Um livro do Kundera me concorda e implora por vingança. Mas sou permissiva e aceito o que sobrou pra mim. Uma lanterna, um celular e um laptop. Caso você queira ainda se conectar comigo, ligar pra mim, surgir luz no fim do túnel. Caso realmente tenha sobrado alguma coisa.

quarta-feira, 3 de março de 2010

domésticos

Não demorou para que se descobrissem incompatíveis. Ele, que era todo extrovertido, todo gurizão, todo boa praça. Ela, que era toda de ninguém, toda esticada na dela, toda bichana. Ele, que era todo bicho grilo, todo sem pedigree, na raça, sol-a-sol; Ela, que era toda puro sangue, toda siamesa, sombra e água fresca. Antes era fácil até: somaram-se. Um tinha aquele quê que o outro admirava e queria pra si. Andavam soltos e sorridentes - e embora um do outro caçador, não temiam: encaravam-se, quase desejando os dentes no pescoço. Depois rolavam pelo chão, pelos lençóis, pelo varal – quase voavam, esses animais! Mas de repente, dessa admiração que era de um para o outro, começaram a se sentir grandes. E tão grandes ficaram que o corpo passou a ocupar o espaço que era do outro, e a zombar do que o outro não era, não podia, não sabia. De repente ficou muito engraçado ser tudo aquilo que o outro dizia, e ver que o outro não era nem metade do que esse queria. Esse, que era ela, de vez em quando ele, que intimamente começou a fazer exigências, e trocar o que é pelo que não é, e achar melhor assim; o outro, que era ele, quando nunca ela, que achava que podia receber mais em troca, que já se doara o bastante, que se sentia meio cão sem dono, na sarjeta. E depois, ninguém mais podia chegar perto dos pertences do outro que o outro avançava. Não se podia mais cheirar o pescoço do outro que o outro rosnava. Não se podia mais nem conviver na mesma casa, e por isso os donos - que ávidos assistiam ao desenrolar da novela, e haviam acreditado num final feliz - decidiram se separar. Ela ficou com ele, que não soltava muito pêlo. Ele ficou com ela, que não exigia tanta atenção. E os dois ficaram sozinhos, em kitnets, queixo sobre o parapeito da janela, pensamento pensando: pelo menos eu tenho o meu canto.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

recorrentes

Eram jovens, e foi quase sempre a mesma história. Ele encostado no balcão da cozinha, observava através do espelho gestos femininos; som de correntes contra a pia do banheiro. Arrastavam-se entre móveis. Lambiam-se distantes. E de vez em quando se comiam. Sem dó.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

melhor assim

Talvez nunca eles saibam. Que se continuassem juntos não teria dado certo mesmo assim, que separados estarão melhor ou pior ou igual; não, igual nunca. Que agora ela sai pra dançar nos mesmos lugares que ele e aparentemente está tudo bem. Que ele já levou outra mulher no seu apartamento e disfarçaram bem. Que estão juntos há anos e ainda não se conhecem ou não se reconhecem agora que são ímpares. Por mais que ele saiba aquele jeito de morder a boca que é só dela; por mais que ela imagine o que ele está pensando quando sua nova namorada fala que adora Pitty; ainda que a família de um não se conforme e que a do outro dê graças a deus; ou que o cachorro dela confunda o alarme do carro e corra pra porta - o cão contém uma esperança; ou que no restaurante do bairro agora ele almoce sozinho ou nem vá ou passe pela salada sem se servir - agora não tem ninguém pra lhe encher o saco, e afinal de contas todo mundo vai morrer um dia; ainda que se encontrem, eventualmente se abracem sentindo, e se desmanchem depois, completamente perdoados; ainda que ocasionalmente esqueçam até por que brigavam e o que era tão horrível que não pudesse ser superado; ainda que haja as fotos e as músicas, os DVDs, os livros, as coisas na estante... coisas que não se dividem, que só vinham a somar; ainda que se preocupem do outro voltar dirigindo daquele jeito, do outro ir dormir na casa de um estranho, do outro não estar comendo direito, do outro estar se endividando de novo; ainda que se preocupem com o outro... com certa frequencia se esquecem - e cada vez mais se repete - na cama de outro adormecem, com outras canções se distraem; um beijo do outro não querem, conversar muito tempo piora, ver o outro sorrindo é quase como não querer que ele seja feliz; melhor se afastar, então, deixar o tempo cuidar - pra que ressuscitar uma coisa que nasceu no fim? Não sabiam. Não sabem. Talvez nunca eles saibam, mas melhor assim.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

mulher

(removido)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

brechó

Voltou à vitrine, após algum tempo. Desta vez exposto, parecia mais vibrante, iluminado, tropical. Já o havia visto, em outras ocasiões, desfilando no corpo de outra. Na época, não reparou além da estampa - e se não tornasse a vê-lo, talvez nem recordasse a cor. Não fazia o estilo, e ela usava outra marca. Agora que estava com peso e medida diferente; agora que era uma pessoa mais solta, que não se limita a um jeans básico com regata branca - nem condena, nem evita; agora que era verão e ela poderia levá-lo a praia, dançar com ele, andar no shopping... Deteve-se na vitrine por minutos, mas não era impulsiva, e ficou de "pensar melhor". Nem reservou. Ele estava na vitrine, era a última tendência. E quanto mais o vissem, talvez mais gostassem dele, e talvez ele se esgotasse antes que ela o pudesse alcançar. Ponderou tentando conter o receio de vê-lo novamente em outra e dessa vez invejar. Voltou lá mais uma ou duas vezes até decidir experimentá-lo; "só pra ver como fica", disse uma daquelas mocinhas. Pegou na mão, sentiu o tecido entre os dedos. Provou. Achou que combinava. Não era questão de necessidade, sabia que era um capricho. Mas tinha tudo a ver com seus acessórios, com os lugares que frequentava; e porque lhe caiu bem, disseram alguns - mas taí uma ocasião em que não se pode ser sincero - mas quantos motivos é preciso listar pra justificar uma consequencia de viver? Contente, já saiu de lá com ele. Levou à vista. Sem culpa e sem receio. Dizem por aí que não tira mais do corpo...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

esse cara

Ele vai te levar a lugares lindinhos com vista pro mar, e vai te contar um trecho da infância - se você puder reparar, verá seus olhos brilharem ao falar da avó materna. Depois ele te beija, e te olha te olha te olha, e desvia. Você vai sentir uma coisinha na alma, caindo, sem nome - vai se lembrar disso na hora e assustar-se com a possibilidade; mas antes que tenha medo, ele te abraça, e diz que adora o teu cheiro, o teu cabelo, sei lá, me acalma. Ele vai te ligar no dia seguinte; talvez aguarde até o final da tarde - não se desespere, ele é do tipo que liga, manda mensagem, e-mail comentando sobre aquela banda que, aliás, estará aí, fazendo um show. Ele não vai te convidar, mas preparará todo o cenário pra que você simplesmente diga "vamos", e ele vai com você; conhecer suas amigas, ele vai, se senta, bebe com elas, serão amigas dele. Ele vai dormir na sua casa, levar um dvd, um cd que ele adora, algo pra compartilharem - algo pra ser de vocês. Ele vai embora, mesmo tarde ou cedo, ele sempre vai, e você irá se questionar se é de verdade, e ele irá dar sinais por mensagem de texto. Ele tem um jeito bem interessante de ser carinhoso. E se você souber o seu jogo - como eu estou dizendo - e se seguir com isso em frente, ele vai ser só seu, como ele já foi só meu, e eu vou ficar sozinha, agora, por um tempo, porque ele é insubstituível.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

o plano

Ao girar a maçaneta, abra devagar. A porta irá ranger, e alguém notará sua presença. Entre mesmo assim. Coloque o guarda-chuva no balde que fica ao lado direito da porta, pendure o casaco no cabideiro que está isolado contra a parede, quase de canto. Em dois ou três minutos alguém virá perguntar o que deseja. Se souber, responda - não fará diferença, há uma fila. Talvez sinta-se mais desconfortável sentado num sofá que não tem o seu formato do que em pé, imaginando. Sente-se mesmo assim. Pegue uma revista para ler e finja ter interesse, como se o motivo de ter ido até lá fosse simplesmente pegar aquela - não uma qualquer; aquela - revista para ler. Estará desatualizada e provavelmente você descobrirá, dois anos depois, que a Angelina Jolie acaba de adotar uma criança vietnamita. Não erga as sobrancelhas, não faça do seu rosto um esboço da surpresa. Nem se a Xuxa cantar em trioeletríco, nem se o programa da Hebe sair do ar. Você não está ali para isso, e você sabe - é sempre pior quando se sabe, mas é também um alívio. A tv estará exibindo uma semissenhora que se comunica com um papagaio; ou um mocotó apresentando um video show. Desista. E quando chegar a sua vez, que disserem nome e sobrenome, e você se reconhecer naquilo, levante-se e vá. É inevitável. E você fará isso tantas vezes que logo lhe ocorrerá naturalmente (tão naturalmente que não fará sentido algum uma instrução desta). Neste plano você tem direito a 24 consultas por ano.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

divididos

Sem contar que era incalculável. Romperam de imediato. Melhor parar por aqui enquanto... não sabiam. Ainda hoje ela se questionou se aquele defeito dele teria mesmo atrapalhado a ponto de. Ele já não se pergunta, porque acredita que ela o superou e que a vida continua, bola pra frente, as coisas são assim, melhor não se apegar etc. Na verdade ele não acredita em nada disso. Ele ainda espera que ela telefone; mas tem que partir dela. Mas ela é tão matemática. Soma as semelhanças e se distrai num sinal estranho nas costas dele, na tosse crônica em meio ao filme, no barulho de gato que carrega às vezes na barriga - quando bebe, é só quando bebe. Ela não percebe. Ele não se atreve. A culpa é dos dois. E seguem impunes.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

dar a mão

Espirrou, e logo lhe foi oferecido um lenço. Deixou cair a sombrinha que carregava pendurada à bolsa, e, por coincidência, deixou também cair a bolsa, moedas, a caixa do óculos, duas balinhas. Ele juntou o que era de bolsa, e o que pôde - que não o tornasse feminino - carregou para ela. Não quero mais isso, pensou, mas não informou. Ele era tão educado. Queria ser como ele, um dia. Caminharam arrasados até o carro: ela, porque já sabia e teria que lhe contar; ele, porque desconfiava e queria evitar. Estavam sempre em contato físico: quando sentados frente à frente, braços esticados sobre a mesa, pra alcançar; ou quando, de longe, se espetavam interrogativos num evento: Vamos? E lá iam os dois, por corredores extensos, se esticando: só vou até ali! Como a criança na praia, não iam pro fundo. Só percebeu porque encontrou outro, um dia, passando por ela, pela rua. Queria as mãos livres para abanar.