terça-feira, 7 de julho de 2009

Retrato de Família

O vento sul suspira mudanças.
Creio que seja cedo ainda, e ainda ontem
avistei tempestades em cachoeiras;
pequenas chamas em brasa ardente.

(talvez esta não seja minha família)
Olho para ele e o indago, o persigo.
Dói desabotoar a camisa, dói
fazer o próprio café? Há noites
eu não faço mais que fechar os olhos
- e as pernas. Há noites contemplo jantares,
colunas sociais; protagonizo a agonia
de desfilar seminua, semiesposa, semialgumacoisa.

Quando varro a casa é quando
tenho paz. No entanto, no instante
em que as chaves se movimentam,
eu me tranco lesma, eu me fecho intensa
gosma de encolher marido.

O bebê banaliza o berço.
O bebê é nosso. É teu e meu.
Nasceu quando? Antes de haver
nós embaraçados, e me recitavas
versos com a palavra "flâmula".

(perigoso estilete cortou-me as partes)

Agora ando pendendo para um dos lados.
Nenhum dos dois me conhece, porém.
E há sempre um terceiro que diz...

4 comentários:

Jardson Fragoso disse...

Priscila, antes de mais nada obrigado pela visita... Confesso que adorei seu blog e curto muito este tipo de poesia fluída e sensível... coloquei nos favoritos e estarei aqui sempre...abraços

Sidnei Olivio disse...

Cara Priscila, obrigado pelas palavras no poema dia. "Vasculhei" seu blog e gostei muito de tudo que li. Adicionei aos favoritos. Abraço.
Sidnei

Paula Barros disse...

Inquietante (eu achei, pode não ser para você que escreveu) o seu poema.

Refletiu para mim uma pessoa (no poema) dividida, em conflito, mas quando varre a casa está em paz, e de uma forma é um bom sinal. Sinal de que podemos varrer os nossos lixos, podemos limpar a nós e o ambiente e com isso tem a ação, tem a esperança de dias melhores.

abraços

Tatiana Pequeno disse...

Priscila, adorei este!