Oi, há quanto tempo não nos vemos! Eu poderia ter escrito um e-mail, eu poderia ter visitado seu orkut e deixado um recado, mas só o que fiz foi pensar em você. Todos os dias, quase. Gosto de pensar que estamos conversando, eu te contando coisas minhas, inutilidades cotidianas; boba que sou, imagino a gente andando pela rua, olhando as vitrines, eu te puxando pelo braço em direção à máquina de sorvete italiano, você pede um misto de creme e chocolate, eu de morango, a gente se senta para ficar à vontade, e a tarde não passa, são três horas, a gente queria estar na praia. Quando imagino essas coisas, são quase lembranças. Acho apenas que nos esquecemos. Eu estava indo e você vinha vindo também, daí a gente se perdeu - e até se deu conta, mas fingiu que não; como quem cruza um conhecido na rua e quase não presta atenção: eu vi você e sei que você me viu, e vice-versa, mas a gente seguiu adiante. Porque algumas ações dependem de decisões a serem tomadas em segundos. No segundo seguinte já passamos um pelo outro e voltar atrás esboça um desespero sem cabimento. Aí fica assim, a vida passando, a gente indo, quase se esquecendo do que ia dizendo quando, de repente, um sonha ou escuta ou interage com qualquer recordação saltitante, e percebe que faz tempo e quer entrar em contato. Aparentemente não faz muito sentido para o outro que ainda não estava preparado, que ainda não fora tocado pela sensibilidade da saudade ou qualquer coisa que se chame nesse sentido. Então o outro desconfia, quer saber por que, como, desde quando e não obtém resposta, a gente se afasta de novo, até outra recaída saudosista. Ou futurista: apenas pra te contar que estou partindo, vou morar na Itália... Mas o número mudou, e você não liga; o e-mail retorna, e não se escreve; os conhecidos em comum são completamente estranhos agora, e ninguém mais se entende nem se atende pelo nome. Então estou aqui neste espaço que não é e-mail nem telefone nem convivência, que é um espaço apenas e não se propõe a mais nada além de publicar-me;estou adorando isso porque é como pensar, mas um pensar testemunhado: este documentário é todo o meu silêncio (quem me assiste e me julga, não me interroga porém). E você, como tem passado? Fez um blog também? Eu não te procurei pra dizer essas coisas porque você não se encontra, foi o que sua mãe me disse quando telefonei anonimamente uma única vez, que você não se encontra. Engraçado, sempre achei que você se achava. Caso esteja enganada, ou sua mãe, e você tenha se interessado por realizar o meu singelo sonho de tomar um sorvete numa tarde de sol, aqui estou eu e não estou. Neste espaço, acontecendo, ainda.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
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9 comentários:
Priscila, gostaria de publicar um texto seu no "proseares", topas?
Beijo.
Seus textos sempre me inspiram, mas o publicado no "proseares" já é antigo. Priscila, envia-me quando vc o quiser e publico. A honra é toda minha. Beijos, querida.
Pri(scila), tem gente que escreve, tem gente que arrasa - você tem duas gentes.
Namastê!
este documentário é todo o meu silêncio - Isso!
muito, muito, muito obrigado pelo comentário no Blog do Bolha do meu poema.
adorei seu blog.
voarei por aqui mais vezes.
posso tomar a liberdade de te add no meu blog??
abraços do Paulinho
Gostei. Priscila. muito. Beijo.
Nossa! me fez transportar no tempo, no espaço, nos pensamentos, nas lembranças...
a vida vivida por todos e por ninguém.
Por "alguéns" numa rua qualquer...
saudades do que foi, do que é, do que será, e, principalmente, do que nunca aconteceu, nem acontecerá.
parabéns pelo texto.
É onírico e ao mesmo tempo visceral.
bjo.
que texto interessante, quase metalinguistico, muito sensível, pessoal... mesmo não tendo vivido tal situação, é bem fácil se identificar com ele... abraços
é, uma coisa meio metalinguística muitíssimo bem escrita, como todos teus escritos.
por isso que sempre volto praqui.
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