segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Cara

O cara acendeu um cigarro. O cara acendeu um cigarro e jogou qualquer coisa fora. "Qualquer coisa" não porque fosse uma coisa qualquer, mas porque de onde eu estava não podia saber. O cara jogou o corpo pra trás no banco de madeira e deixou-se escorregar, penso, pra fumar com tranquilidade - até então o cara tava puto ou alguma coisa assim. As pessoas do lado do cara começaram a fungar e fazer cena de que não suportavam cigarro, ou fumantes - o que dá quase no mesmo embora o segundo caso seja mais grave, um tipo xenofobia. O cara olha pro cara da moto, os dois se engasgam, e o cara da moto quase atropela um cachorro. O cara fica puto. Não porque goste de animais, ele não tem a menor cara. Não sei por que então. Uma mãe passa o filho pro outro lado por causa do cigarro - ou do cara. Vai passando o tempo assim, essa tensão, esse thriller; daí então chega o ônibus, o cara se levanta assim, cheio de dominância; o cara vai andando em direção ao motorista, espera todos entrarem - não por educação, mas por privacidade que quer ter ali, na hora; nem pensa - e pergunta - cigarro nos lábios, olhos piscando na fumaça: "Esse ônibus aí... passa lá na Rua das Margaridas?". O motorista olha pra ele e bufa num riso; abana a cabeça negativamente. "O ônibus que passa lá fica na plataforma B." O cara passa o antebraço na testa pra secar, olha pra tal plataforma B, olha pro motorista. Ônibus ligado, fábrica de ar quente. "Aquele ônibus é muito caro", pensa o cara. "Duas quadras é quase nada", diz o cara. O cara apaga o cigarro com o pé direito, solta a fumaça e entra no ônibus. Lá dentro, ninguém mais repara nele; uns de fone de ouvido, outros conversando com os que estão em pé. Ninguém desconfia, mas ele é O Cara.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Resultado do II PRÊMIO LITERÁRIO CIDADE POESIA

Associação de Escritores de Bragança Paulista
Resultado


CATEGORIA: CONTO


A Associação de Escritores de Bragança Paulista – ASES – tem o prazer de divulgar o resultado do II Prêmio Literário Cidade Poesia. A solenidade de entrega de prêmios e o lançamento da antologia estão previstos para o segundo semestre de 2011, possivelmente nos meses de agosto ou setembro. Entraremos em contato com todos os autores abaixo relacionados a partir do próximo mês de março.


Melhor conto na categoria "autor bragantino":

O elixir da longa vida
Autora: Milena Dias de Paula – Bragança Paulista


Categoria Geral (mais de 400 inscritos):

1° lugar:
O polvo
autora: Rita Isabel dos Reis Garcia Fernandes – Amora - Portugal

2° lugar:
A maçã
autor: Camões Ribeiro do Couto Filho – Taubaté – SP

3° lugar:
São Raimundo da Viola
autor: Jorge Sebastião dos Santos – Belo Horizonte – MG.


MENÇÕES HONROSAS
( em ordem alfabética de autores)

O Quimono
André Kondo – Jundiaí – SP

Depoimento
Benilson Toniolo – Campos do Jordão – SP

O cabelo loiro
Gracieli Borges Ferreira de Souza – Alfenas – MG

Torta de Palmito
Henrique Alberto Alves Ferreira – Diamantina - MG

Bio Boi
João Paulo Parísio – Jaboatão dos Guararapes – PE

A maçã do amor
Priscila Lopes – Florianópolis – SC

Pirilampos
Renato Benvindo Frata – Paranavaí – PR

DEMAIS CLASSIFICADOS PARA A ANTOLOGIA:
( em ordem alfabética de autores)

- O arranjo
Ana Cristina Mendes Gomes – Rio de Janeiro – RJ


- O ateu que acreditava em Santos
Anderson Ferreira S.Alcântara – Goianésia- GO

- Obsessão
António José Barradas Barroso – Paredes – Portugal

- Rei velho, Rei Novo
Bethânia Pires Amaro – Salvador - BA

- A catequese
Dinis Reis Sutil Miracho – Lisboa – Portugal

- Vó Lucrécia
Evandro Figueiredo Cândido- Elói Mendes –MG

- Livro de Sonhos
Iverton Gessé Ribeiro Gonçalves – Nova Prata – RS

- Manhã de inverno
Paulo César de Oliveira Tórtora – Rio de Janeiro –RJ

- Desatentado
Ricardo Maggessi Viola – Lambari- MG

- Homens
Rodrigo Alfonso de Figueira – Porto Alegre – RS

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pricostalopes@gmail.com

Obrigada!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

canção de consolo

pra quando lembrar, cessar o olhar nesse outro ser; deixar entrar no teu coração o sim do não que passamos juntos. pra quando lembrar, não restar nenhuma dúvida pendurada em tua garganta, nenhum furor, nenhuma fama, e podermos lamentar o que não fomos quando tínhamos; pra quando lembrar, meu bem, estarei disposta a esclarecer o que tiver de esclarecer, e contigo esquecer o que agora não consigo; eu só te peço que não, não nessa encarnação, enquanto somos o que nós temíamos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

intervenção

Primeiro, eu não era tão nova que não pudesse acreditar; nem tão limitada que não pudesse alcançar. Eu só tive medo, e não sabia antes do quê. Antes era um vidro embaçado. Antes era uma espinha de peixe de lado na garganta. Você sabe sobre o que eu estou falando, até quem não passou por isso faz uma ideia. Depois éramos tarde demais - eu sempre volto nesse ponto que não-sei-bem-o-que-é-isso. E viemos antes que todos pudesssem se prevenir, fizemos planos "incumpríveis" - e criamos um dicionário todo nosso, do qual hoje não posso fazer uso com mais ninguém; vivo a evitar certas palavras. Assim: eu fui desistindo, você foi desistindo, a gente nem se fez. Vale lembrar que eu te avisei, e você me avisou, como era impossível de se conviver, ainda que a gente tenha encontrado nessa coincidência a oportunidade boba de fazer durar alguma coisa. Após esses rodopios do tempo envolta da gente, eu me recordo não que te perdi, mas que te esqueci de trazer, e já não sabia onde havia posto, e como sempre estou atrasada, tenho que ir, vou andando...

Mas eu te espero ainda; como quem sonha em ganhar na Mega Sena, e não joga.