segunda-feira, 12 de setembro de 2011

um jeito meu de me dar

de repente eu agi como se houvesse uma possibilidade absurda, como se eu quisesse alguma coisa além daqueles olhos ali me olhando; eu, que era tão de mim que vinha sendo, que não levava nada pra casa, assim de graça, nem trazia, nem me permitia emoções que transbordam, que fazem rir doendo, que fazem querer esconder o rosto - sem vergonha. comecei a entregar minhas malas todas a um ser estranho, recém nascido pra mim, recém nascido pro meu mundo, sobre o qual eu havia lido alguma nota de existência anos antes, e que não me chamou atenção, que me passou batido como muitas outras coisas passaram batidas até ali. de repente eu estivesse frágil, diriam, carente? não era carência, não era fragilidade; eu posso afirmar que estava em meu momento fênix, me restabelecendo de uma onda cinza, mas já me sentindo forte, dando braçadas por cima de outra onda de espuma branca, sem pensar em ninguém, sem ter o desejo abstrato do romântico; porque todo o romantismo havia se dissolvido em mim há algum tempo, e eu já estava cansada de forjar maneiras de permitir que ele me arrebatasse novamente; o romantismo estava vencido. as contas de casa, algumas, vencidas. e as relações todas; tudo. então eu encontrei essa reencarnação de alguma possibilidade que não tem nome - veja bem, tente entender minha dificuldade: é tudo muito sem nome, sem adjetivo, é tudo muito atual, no momento da fala - e entreguei aparentemente sem dificuldade quem era eu naquele momento - mesmo que eu não soubesse quem era. Eu fui dando assim, oferecendo, mostrando, como um fornecedor apresenta um catálogo, quase sugerindo as cores. e a pessoa que ouvia, a pessoa que me assistia ali com aqueles olhos que não me conheciam, recebeu aquilo de modo desvalorizado, como se aquilo fosse um costume meu de me dar; não era. e agora eu não sei como eu pego isso tudo de volta.

6 comentários:

Ico disse...

no se puede dejar de ser como uno es en el amor, entregarse, aunque quien lo reciba no lo tome como debe ser, .. basta esperar y encontrar a alguien que valore esa forma romántica de entregarse.. saludos..

Ana Andreolli disse...

ai Priscila... cada vez q vc atualiza aqui é um soco na boca do meu estomago, chega a me doer o jeito q vc consegue escrever, serio parece pra mim meo!!

Camilo Irineu Quartarollo disse...

Priscila, gostei muito desse texto, iniciando pela minúscula e sem ponto final conclusivos; mostrando mesmo a menina, a energia, o trejeito, descrevendo de forma convincente o momento, nada mais - é muito difícil fazer isso, heim. Parabéns, vc escreveu com a alma.

Alvarêz Dewïzqe disse...

escritora, com certeza!

gosto muito quando você vem assim enigmática.

Cynthia Lopes disse...

Oi Pri, com saudades de ti
vim por aqui te ler e de um
jeito todo seu, vc sempre me surpreende com este seu escrever solto como quem pensa junto com a gente. bjs

Fanzine Episódio Cultural disse...

VIII CONCURSO PLÍNIO MOTA DE POESIAS 2011 (MACHADO-MG). FALEM COMIGO!

A ACADEMIA MACHADENSE DE LETRAS (Machado-MG) comunica que estão
abertas as inscrições para o VIII Concurso Plínio Motta de Poesias, do
ano 2011.
Entrem em contato para adquirir o Regulamento:
a/c Carlos Roberto machadocultural@gmail.com
ESTE CONCURSO ESTÁ ABERTO PARA TODOS!

OBS: O VALOR DA INSCRIÇÃO ( 2 REAIS) PODE SER COLOCADO DENTRO DO ENVELOPE COM AS 6 CÓPIAS DA SUA POESIA.