quarta-feira, 9 de setembro de 2009

divagar divagar devagarinho


O chiclete me mastiga a boca, tal qual o beijo de despedida me saliva as gengivas. Estou me fumando, e estou quase chapada. Entorpeço-me e interajo com o mundo de uma forma muito doida. Penso que a vida é isso e aquilo outro, depois esqueço e penso que não pensava em nada. Desenho-me no papel: meus olhos são puxados como os de uma japonesa. Minhas mãos tocam meu corpo com o lápis e parecem não me conhecer pois me dão proporções absurdas. Isso demonstra o meu descontrole? Isso demonstra a minha falta de senso crítico, de percepção própria? O batuque que sai dos meus dedos sobre as minhas coxas enquanto estou no ônibus não acompanha o ritmo da música que ouço. Sou desconexa. Meu tempo é atemporal, e estou caindo a 60 quilômetros por hora – mas ainda é alto e ninguém me vê. A queda é ininterrupta. A queda é inesperada. Há anos pratico uma queda quase infinita, porque só conheço o ponto de partida. Caio diagonalmente aos meus anseios – quase posso tocá-los, vez ou outra os agarro, mas se desmancham nuvens entre os meus dedos. Caio desproporcionalmente ao compasso com que os outros caminham. Estou incapacitada e cheia de atitude. Temo que minha vontade extrapole o vazio e transborde – posso parecer louca e a loucura em sociedade é condenável. Estou num beijo. Estou num selo. Estou num posto de gasolina. Colada num poste eu estou, num barquinho de papel, num parque de diversões. Eu sou essa coisa visível e imperceptível. Minha missão é passar despercebida.

7 comentários:

nina rizzi disse...

de uma velocidade beat.
e te adoro nick.

um beijo.

Cefas Carvalho disse...

Belo texto, Priscila, rápido e estranho.
Ah, coloquei o meu blog o link para o seu. Abraço!

Pedro disse...

".. interajo com o mundo de uma forma muito doida .."

ah, nem dá pra notar ...
:)

sueli aduan disse...

ual,gostei muito,muito.
seu texto me passou essa sensação incrível da nossa pequenez perante tudo e, ao mesmo tempo nosso envolvimento com tudo.
Guardadas as devidas considerações, lembrou-me Julio Córtazar, Clarice Lispector, a pegada é a mesma.
Parabéns
abs

Parreira disse...

Gostei aqui da sua residência. Vou favoritar lá no meu PPC! (Principalmente por ter reencontrado Alice Ruiz, que adoro desde antes do Leminski...)


Bjs. do

PARREIRA

Cynthia Lopes disse...

Tudo, menos imperceptível...
Oi Pri, adorei seu comentário no blog,
oxalá eu viva esta anunciação, rsrs...
Um beijão, Cynthia

Rubens da Cunha disse...

tá explicado porque vc ganhou a bolsa :))

beijos