Espirrou, e logo lhe foi oferecido um lenço. Deixou cair a sombrinha que carregava pendurada à bolsa, e, por coincidência, deixou também cair a bolsa, moedas, a caixa do óculos, duas balinhas. Ele juntou o que era de bolsa, e o que pôde - que não o tornasse feminino - carregou para ela. Não quero mais isso, pensou, mas não informou. Ele era tão educado. Queria ser como ele, um dia. Caminharam arrasados até o carro: ela, porque já sabia e teria que lhe contar; ele, porque desconfiava e queria evitar. Estavam sempre em contato físico: quando sentados frente à frente, braços esticados sobre a mesa, pra alcançar; ou quando, de longe, se espetavam interrogativos num evento: Vamos? E lá iam os dois, por corredores extensos, se esticando: só vou até ali! Como a criança na praia, não iam pro fundo. Só percebeu porque encontrou outro, um dia, passando por ela, pela rua. Queria as mãos livres para abanar.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
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7 comentários:
É, por vezes é bem simples - um - dar a mão. As vezes assim, meio embaraçado ou sem saber onde pô-las.
Lembrei da letra do Skank "subitamente".
Vi Clarice nesse teu texto. Exatamente assim.
Não sei se já leu "A Mensagem", um dos contos de "Felicidade Clandestina".
Encontros insistidos, desencontros adiados, reencontros inevitáveis...
Adorei, Priscila!
Beijos...
Bonito este texto!
Vale a pena ter as mãos livres... "para abanar".
Um beijo
menina, teus contos são legais , muitos legais...
abraços
É bom dar a mão, receber uma mão; ter um apoio, ser o esteio; tem-se tudo isso, mas engraçado..às vezes sentimo-nos presos nessas mãos...já vi isso acontecer bem juntinho a mim...ele quis as mãos livres para abanar livremente...mão queria ser esteio...não queria ter apoio...livre e livre era o que queria ser; trouxe dor para quem queria a mão, para quem queria o apoio para quem agora diz: queria ser como ele...mas como ele só há ele...
Foi isto que vi no teu texto, Priscila...tocou numa ferida...uma outra mão virá e não irá só até ali...irá um pouco mais além, pelo menos.
Um beijinho e até breve
Chamaria de elegíaco. Vontade de chorar...
Ele:
- O que foi feito do lenço, da bolsa, das coisas todas? O que foi feito da matéria viva (ou morta -já não sei) que sobrou?
(Faz-se o que com os restos materiais de um amor desfeito? Abana-se para onde?)
Eu fechei a minha mão esquerda para saber o tamanho do meu coração. Para quê?
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